Artigos dos bispos

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)


Celebramos dia 09, a festa litúrgica de São José de Anchieta, o santo missionário em nossas terras brasileiras, considerado o apóstolo do Brasil. Podemos dizer que Anchieta foi o apóstolo Paulo de seu tempo, incansável missionário que não se cansava de anunciar Jesus Cristo, principalmente aos que não eram convertidos. Neste ano esta festa é substituída pela memória de Nossa Senhora, Mãe da Igreja, que é obrigatoriamente celebrada na segunda-feira depois da Solenidade de Pentecostes.  

José de Anchieta chegou aqui em 1553 e atuou como missionário, por isso, é considerado o apóstolo do Brasil e, por isso, é considerado um santo brasileiro. José de Anchieta nasceu na ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, na Espanha.  

O trabalho de evangelização de Anchieta se deu sobretudo com os indígenas, ele viveu quarenta e três anos no Brasil, e ajudou na fundação de escolas, igrejas e cidades importantes. A evangelização dos indígenas inclusive iniciou em 1500 quando os jesuítas foram chegando em nossa terra e começou a evangelização daqueles que aqui viviam, que até então eram os indígenas.  

São José de Anchieta ingressou ne Universidade de Coimbra para estudar Letras e Filosofia, foi na universidade que ele teve o primeiro contato com a Companhia de Jesus e com o testemunho de São Francisco Xavier. Quando Anchieta estava com dezessete anos fez uma promessa diante da imagem de Nossa Senhora de abandonar tudo e servir a Deus.  

Anchieta entra para a Companhia de Jesus em 1551, após um período de noviciado exigente e mesmo com a saúde frágil, fez os seus votos de pobreza, castidade e obediência, em 1553. Nesse mesmo ano foi enviado ao Brasil, chegando à terra de Santa Cruz ele começou a evangelizar. Anchieta era fiel a doutrina, e a sua congregação, e acima de tudo era fiel ao Espírito Santo.  

São José de Anchieta tornou-se além de catequista, dramaturgo, poeta, gramático, linguista e historiador, vale ressaltar que ele é o autor da primeira gramática brasileira. Em janeiro de 1554, ele participou da missa da inauguração do colégio São Paulo de Piratininga, onde surgiu a cidade de São Paulo e o local da inauguração ficou conhecida até aos dias de hoje como “Páteo do Colégio”. A partir da fundação da cidade de São Paulo, Anchieta e seus companheiros iniciaram a sua missão na cidade. Um grande companheiro de missão de Anchieta era o Padre Manoel da Nóbrega. Por isso, temos muito a agradecer a Anchieta, Manoel da Nóbrega e seus companheiros, pois foram apóstolos incansáveis e que levavam a Palavra de Deus aos diversos cantos do nosso país.  

Entre as características da evangelização de Anchieta e seus companheiros está a catequese, ou seja, eles anunciavam a pessoa de Jesus Cristo aos indígenas e aquilo que continha a palavra de Deus. Eles disseminavam os preceitos cristãos, mas sempre respeitando a cultura local. Do mesmo modo que os demais jesuítas, Anchieta se opunha fortemente aos abusos dos portugueses aos povos indígenas. Anchieta e seus companheiros defendiam o povo indígena e respeitavam a sua cultura. Até porque quem chegou aqui depois foram os portugueses e em seguida os Jesuítas, ou seja, os indígenas já viviam aqui, por isso, tinha que respeitar o modo que eles viviam aqui. Anchieta e seus companheiros respeitavam, o que eles faziam era evangelizar e catequizar os indígenas para que eles conhecessem melhor a Deus, mas sem deixar de lado a cultura. Essa atitude de Anchieta é louvável e é um ensinamento para nós, pois devemos agir dessa maneira, não devemos impor nossa cultura e a maneira de pensar para ninguém, mas se habituar a cultura local.  

Por volta do ano de 1563, com o apoio dos ses, a tribo dos tamoios se rebelou contra a colonização portuguesa. Anchieta e Manoel da Nóbrega resolveram viajar para ajudar a conter a revolta, eles foram até a aldeia de Iperoig (nos dias de hoje é Ubatuba, litoral norte de São Paulo). Anchieta se ofereceu como refém e Manoel da Nóbrega foi buscar as tratativas de paz. Durante o cativeiro Anchieta sofreu algumas tentações, inclusive contra a sua castidade, pois era costume dos índios oferecer mulheres para os prisioneiros. Anchieta permaneceu no cativeiro por cinco meses e fez uma promessa a Nossa Senhora, que se conseguisse se manter casto até o fim lhe escreveria um poema em sua homenagem. Com versos escritos na areia ele deu vida ao poema em honra a Virgem Maria. Com isso, vemos que Anchieta e Manoel da Nóbrega foram grandes defensores dos indígenas.  

No ano de 1566, Anchieta foi ordenado sacerdote, três anos após a sua ordenação fundou o povoado de Reritiba, no Espírito Santo. Em 1577, foi nomeado provincial da congregação dos jesuítas no Brasil, função que desempenhou muito bem até 1585. Em 1595, Anchieta retirou-se para Reritiba, e ali permaneceu até o seu falecimento, aos 63 anos de idade, em 09 de junho de 1597.  

José de Anchieta desde muito jovem gostava de escrever poemas e era um amante da arte. Tinha até um apelido de “canarinho” dado por seus companheiros, devido ao gosto em declamar poesias. Escreveu diversos autos e poemas sobre a vida de Cristo.  

Apesar de tudo isso que relatamos sobre a vida de Anchieta, o decreto de sua canonização só foi escrito 417 anos depois de sua morte, no dia 03 de abril de 2014, pelo Papa Francisco. Depois, no dia 24 de abril de 2014, o Papa Francisco presidiu uma Santa Missa em ação de graças pela Canonização de São José de Anchieta, na Igreja dos Jesuítas, em Roma. No relatório final para a aprovação de sua canonização, havia o registro de 5.350 histórias de pessoas que alcançaram graças rezando à São Jose de Anchieta. Apesar de toda a sua história de vida, Anchieta demorou para ser canonizado pela Igreja, porém foi declarado patrono dos catequistas do Brasil pela CNBB em 2013, e este título foi confirmado pela então Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos da Santa Sé em 2015. 

José de Anchieta é considerado o “apóstolo do Brasil”, mesmo antes de sua beatificação e posterior canonização. Ele foi beatificado pelo Papa João Paulo II, em 22 de junho de 1980 e canonizado em 03 de abril de 2014, através de um decreto assinado pelo Papa Francisco.  

São José de Anchieta é um exemplo para todos os missionários, ele nos ensina a sair de nossas casas, das igrejas e comunidades e ir ao encontro do próximo. A palavra de Deus precisa ser espalhada no mundo. É preciso também testemunhar com amor a nossa fé e defender aquilo que nós cremos até as últimas consequências. O Espírito Santo como protagonista da missão e que acompanhou Anchieta em todos os momentos de sua vida, nos acompanhará também. Em qualquer lugar que estivermos é possível anunciar Jesus Cristo.  

Celebremos com alegria a festa de São José de Anchieta e peçamos a intercessão do Santo para que tenhamos o mesmo ardor missionário que ele tinha. Que, do céu, São José de Anchieta continue velando pelo povo brasileiro. Que neste ano jubilar sejamos, como o Apóstolo do Brasil, construtores de esperança e de paz! 

 

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

 

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Neste final de semana, como Igreja, Povo de Deus a caminho e peregrinos de esperança, celebramos a Festa de Pentecostes. Com a vinda do Espírito Santo tem início uma nova aliança entre Deus e os homens. A Festa de Pentecostes era originalmente a festa das colheitas; sucessivamente torna-se a festa da renovação da aliança do Sinai, entre Deus e o seu povo. 

No Sinai, era Deus que falava. Na Festa de Pentecostes, são os homens iluminados pelo Espírito Santo que levam uma palavra nova e criadora. O Espírito é o intérprete perfeito da palavra de Jesus Cristo. O sinal de que a presença do Espírito Santo age na Igreja é o amor por Cristo, que nasce no coração dos fiéis. O Espírito Santo, portanto, cria a comunhão dos filhos e filhas renascidos para uma vida nova com o Pai, pela graça do Batismo. 

A função do Espírito Santo é, portanto, aquela de permitir aos homens comunicar a experiência do Ressuscitado. Não é o Espírito que fala, mas é ele que torna possível a experiência de comunicar. O Espírito não nos diz o que devemos fazer, nem pode fazer o que nós devemos fazer, ele, porém, nos dá a força e a possibilidade de agir, quando devemos mostrar resultados.  

Hoje a Igreja é chamada a colaborar com o Espírito Santo para renovar o mundo, através do anúncio e do testemunho. E toda vez que um grupo de homens e mulheres, de jovens ou de crianças, se reúnem para escutar a palavra do Ressuscitado, tornada presente pela potência do Espírito, a Igreja renasce. Pela ação do Espírito Santo estaremos sempre vivendo uma nova aurora na vida da Igreja. A festa de Pentecostes também nos convida e convida as nossas comunidades a uma abertura missionária, e a nos colocarmos a caminho, para levar o Evangelho a todos os homens. 

Os discípulos de Jesus, tomados pelo medo, foram transformados com os dons do Espírito Santo em testemunhas fervorosas e dispostas a retomar o caminho do Cristo, para continuar a sua obra de salvação. Portanto, todos nós podemos trabalhar por um mundo melhor, e fazer isto é possível, mesmo mantendo a própria cultura, a própria identidade, basta apenas acreditarmos e deixarmos que o Espírito Santo possa agir em nós. 

 

 

 

 

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA) 

 

Vivemos o Tempo Pascal na expectativa orante do dom do Espírito Santo, Dom inefável do Cristo Ressuscitado. Em Belém, compartilhamos a profissão de fé diante da partida do memorável Papa Francisco, a eleição de Leão XIV e a chegada do novo Arcebispo Coadjutor, Dom Júlio Endi Akamine. Ao mesmo tempo, tudo foi ponderado com as lutas e as dores, que fazem parte de nosso cotidiano. Tudo isso, na certeza de que o Espírito Santo conduz misteriosamente a Igreja, por caminhos insondáveis. 

No dia vinte e seis de maio, coube-me dar graças ao Senhor que me conduziu até aqui, completando setenta e cinco anos, ao contemplar, no Jubileu de Esperança, o ado, o presente e o futuro. No dia trinta de maio, fiz minha ação de graças pelos setenta e cinco anos de Batismo. Não me é possível descrever as alegrias e as esperanças, as dores e os sofrimentos experimentados nestes setenta e cinco anos de idade, quase cinquenta e dois de ordenação sacerdotal e perto dos trinta e quatro anos de episcopado. No dia da Imaculada Conceição de dois mil e nove, fui comunicado da nomeação para Arcebispo de Santa Maria de Belém do Grão Pará, onde tomei posse no dia vinte e cinco de março de dois mil e dez, sabendo de minha indignidade e ao mesmo tempo da grandeza da graça, que tem me acompanhado. E aqui me encontro, louvando a Deus pela sua obra, com quinze anos de Arcebispo de Belém. Sou mais um espectador do que um realizador de atividades. Deus faz e nós acompanhamos, malgrado nossos limites e fraquezas. A todas os irmãos e irmãs que me acompanharam e acompanham, chegue o agradecimento sincero pela vida e pelas delicadezas com que me cumprimentam e rezam por mim. Deus lhes pague, e vamos caminhar sempre juntos! Só posso dizer que sou realmente feliz, e ainda me considero novo, mesmo com os achaques da idade, pois retomei a oração tantas vezes repetida no início das missas, quando criança e nos primeiros anos de Seminário: “Irei ao altar de Deus, ao Deus que alegra a minha juventude, e te darei graças, Deus, meu Deus” (cf. Sl 42, 4). 

No glorioso dia trinta e um de maio do presente ano, Santa Maria de Belém nos acolheu na Catedral Metropolitana de Belém, para a apresentação do novo Arcebispo Coadjutor, que a Providência de Deus, através da benevolência do Papa Francisco e do Papa Leão XIV concedeu à Arquidiocese. Aquilo que o Espírito Santo inspirou naquela manhã, desejo aqui transcrever, para plantar na memória agradecida de nossa Igreja e testemunhar o que Deus faz entre nós!  

“Olhemos para frente e para o alto, dos limites geográficos e humanos de nossa Igreja, todos nós, os Bispos, os Presbíteros, nossas Paróquias e Áreas Missionárias, Diáconos, Religiosos e Religiosas, Membros de Novas Comunidades, Seminaristas, as Pastorais, os Movimentos e Serviços, Obras Sociais, Faculdade, Escolas, todos unidos como um só corpo, certos da presença de Jesus em nosso meio, pois reunidos em seu nome. No alto, pontifica a Cruz gloriosa do Senhor, iluminada com os raios da Ressurreição. Na Solenidade da Ascensão, este bonito jogo de palavras, sentimentos e profissão de fé nos foi apresentado. Olhamos para o alto, proclamando nossa fé naquele que é, que era e que vem, Nosso Senhor Jesus Cristo. Olhamos para frente, descortinando os horizontes da missão evangelizadora da Igreja de Belém, enriquecida espiritual e pastoralmente com o Arcebispo que chega. Olhamos agora para o alto, saindo de Nazaré para as montanhas existentes nas cercanias de Jerusalém, onde viviam Zacarias e Isabel.  

Caminha conosco a Virgem Maria, Maria de Nazaré, Nossa Senhora da Graça, Santa Maria de Belém, Nossa Senhora da Visitação, Maria, Arca da Aliança. A Carta dos Hebreus (cf. Hb 9,4) relata que a Arca da Aliança “toda recoberta de ouro, continha o maná, o bastão de Aarão que tinha florescido, e as tábuas da aliança”. Na Ladainha de Nossa Senhora, nós a invocamos com este título de Arca da Aliança! A ela nossa saudação! Salve Maria de Nazaré, que trouxeste em teu ventre aquele que é o Pastor de Israel, Nosso Senhor Jesus Cristo, levando alegria inusitada à criança que crescia no ventre de Isabel. Ave, mais uma vez, Maria da Graça, cheia de Graça, a toda revestida da Palavra de Deus, e teu filho amado é o Verbo de Deus feito Carne. Nós te saudamos, Maria, Santa Maria de Belém, e Belém é Casa do Pão, Mulher Eucarística, tu que praticaste tua fé eucarística ainda antes de ser instituída a Eucaristia, quando ofereceste teu ventre virginal para a encarnação do Verbo de Deus. Na anunciação, concebeste o Filho divino também na realidade física do corpo e do sangue, em certa medida antecipando o que se realiza sacramentalmente em cada pessoa de fé quando recebe, no sinal do pão e do vinho, o corpo e o sangue do Senhor (cf. Ecclesia de Eucaristia 55). Como crianças pedimos para caminhar de mãos dadas contigo, para entendermos na fé o que acontece hoje em nossa Igreja! 

A Igreja se realiza onde existe a Eucaristia válida, um legítimo sucessor dos Apóstolos e a comunhão com a Sé de Pedro. Nesta Catedral, como já entendiam cristãos dos primeiros séculos a respeito das Igrejas Particulares, estão selados os documentos de legitimidade da Igreja de Belém nos corpos dos Bispos e Arcebispos aqui plantados, enquanto esperamos a vinda do Senhor. Esta Igreja de Belém quer receber a chegada de Dom Júlio, nomeado pelo sucessor de Pedro, exultando de alegria, para proclamar, com Isabel, que o novo Arcebispo Coadjutor é feliz e bem-aventurado por acreditar e trazer misticamente as missões confiadas à Igreja.  

Olhemos para frente! Nós o acolhemos, Dom Júlio, na dimensão profética daquele que traz a Palavra de Deus. Com toda certeza aqui estarão os membros do Povo de Deus, sedentos da força do Evangelho que brotará de seu coração e sua boca. Nós queremos recebê-lo como o sacerdote que preside a Eucaristia e os outros Sacramentos, certos de que nossa santificação a pelo seu ministério e pela sua oração. Nós o reconhecemos como pastor, para conduzir-nos nos caminhos da formação de Comunidades cristãs vivas e para o serviço da caridade, especialmente no serviço aos mais pobres. Com sua pessoa e seu ministério, desejamos cantar o Magnificat, certos da ação de Deus, que conduz a história. 

Dom Paulo Andreolli e eu tivemos a alegria de receber o novo Arcebispo Coadjutor, que trabalhará conosco em comunhão, até que chegue, no tempo de Deus, o acolhimento do Santo Padre o Papa Leão XIV ao meu pedido de renúncia, já encaminhado, segundo as normas da Igreja. Minha missão, dali para frente, será colaborar na oração e em tudo o que me for possível, num profundo espírito de respeito e comunhão, com aquele que me sucederá nesta Sede. Aqui cheguei há quinze anos para dar minha vida, e contando com a aquiescência de Dom Júlio, manifestada com muito carinho, aqui permanecerei enquanto o Senhor me conceder forças e vida. 

Queremos viver com intensidade a Festa da Visitação. Seja toda ela nosso Magnificat, sabedores de que os dons de Deus têm sido maiores do que nós tenhamos pensado ou desejado, rezando uns pelos outros, por nossa contínua conversão e fidelidade, certos da ação do Espírito Santo, em cuja novena nos encontramos, construindo nossa Igreja, que quer ter portas abertas e contribuir para que nossas cidades se encham da alegria que vem de Deus!” (cf. Mensagem de ação de graças no aniversário e Homilia do dia trinta e um de maio de 2025) 

Dado no Ano Jubilar de dois mil e vinte e cinco, na Arquidiocese de Belém, criada no dia quatro de março de mil, setecentos e dezenove, elevada a Arquidiocese e Sede Metropolitana no dia primeiro de maio de mil, novecentos e seis. Dom Alberto Taveira Corrêa, por graça de Deus e da Sé Apostólica, vigésimo terceiro Bispo e décimo Arcebispo Metropolitano.